quinta-feira, 25 de maio de 2017

O último suspiro de um governo ilegítimo

Por Cézar Britto, na revista CartaCapital:

O general João Figueiredo, no dia 18 de abril de 1984, impôs ao Brasil o Decreto nº 89.566, estabelecendo medidas de emergência visando preservar a ordem pública na área do Distrito Federal e em seu entorno goiano “ameaçados de grave perturbação”.

Designou, na forma do seu art. 3º, o general Newton Cruz como executor das medidas, em razão de ser o comandante do Comando Militar do Planalto.

E qual ameaça pairava sobre o Brasil?

Nada mais do que realização de sessão na Câmara dos Deputados que votaria, no dia 25 de abril de 1984, a Emenda Constitucional Dante de Oliveira (PEC nº 05/1983), que tinha por objetivo reinstaurar as eleições diretas para presidente da República, então escolhido, no dizer do autor da emenda, “em círculos fechados e inacessíveis à influência popular e às aspirações nacionais”.

A esperança de que a cidadania sairia vencedora naquele especial dia estava respaldada na pressão popular que brotava do grito coletivo simbolizado na palavra de ordem “Diretas Já!”.

O maior movimento político-social da História do Brasil, refletida em comícios que atraiam milhões de brasileiros e brasileiras, era a resposta da cidadania à Ditadura civil-militar que teimava assolar o Brasil.

Embora a madrugada do dia 26 de abril de 1984 tivesse anunciado a derrota da campanha pelas Diretas, o povo seguiu em frente, derrotando o candidato Paulo Maluf e, depois, a própria ditadura militar. O general Newton Cruz, cercando o Congresso Nacional, prendendo manifestantes e invadindo a OAB/DF significou o último suspiro do regime de exceção.

Na quarta-feira, 24 de maio de 2017, um decreto assinado pelo presidente Michel Temer autorizou o “emprego das Forças Armadas para a Garantia da Lei e da Ordem no Distrito Federal”, sob o comando do ministro da defesa Raul Juggmann.

Quando a cidadania brasileira volta a questionar a legitimidade do presidente plantonista e de uma possível eleição indireta, insiste-se em repetir as mais obscuras páginas do autoritarismo.

Ao fixar o prazo de sete dias para a duração das medidas de exceção, revela-se o verdadeiro querer de quem o impôs. Ao procurar projetar o lapso temporal para o período em que a pressão popular promete aumentar a sua força, o decreto expõe uma clara ameaça a todos que lutam, democraticamente, pelo afastamento presidencial.

Sabe-se que as Forças Armadas cumprem e continuarão cumprindo a missão constitucional garantidora do Estado Democrático de Direito. Mas o desesperado gesto de confundir a sociedade com a “compulsória convocação emergencial” revela o que parece ser o último suspiro do governo que será reconhecido na História por não ter respeitado a democracia.

* Cézar Britto é ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil e atual Membro Vitalício do Conselho da OAB.

1 comentários:

will disse...

Tenho nojo dessa atitude grotesca de querer calar o Brasil pela força e autoritarismo. Já sabemos que o papel do Michel Temer é fazer as reformas que são o sonho dos ricos, onde eles deixariam de ter cumprir o direito dos trabalhadores brasileiros. Agora a caça deverá ser feita a PIG, as redes de TV que conspiram contra o Brasil, com o seu patético editorial e comentários mentirosos, de que as reformas são boas para o Brasil. São péssimas para o povo, e boas para os bastardos ricos do Brasil,são péssimas para os nossos filhos, mas são a garantia de uma oligarquia criminosa e herdeira que estão por nascer nessas famílias que conspiram contra toda uma nação. O Temer defende essa corja, defende essa PIG que são heranças malditas de 5 famílias diabólicas, contra uma nação,contra um povo que não suporta mais desmandes na Justiça em prol dos ricos, que não suporta mais entender que os Três Poderes da União está corrompido. E portanto devemos ter eleição direta já! Leis contra o Abuso de Poder e tornar o Supremo Tribunal Federal, democrático, com mudanças de juízes e não cadeira cativa para alguns juízes, ou supostos corruptos da Justiça.