sábado, 11 de fevereiro de 2017

Sergio Moro: herói ou blefe?

Por Valdemar Figueredo Filho, na revista Fórum:

Lugar comum dizer que somos nossas circunstâncias com um amontoado de ambiguidades. Nada extravagante reconhecer que se tudo estiver na normalidade vamos nos contradizer outras vezes. Singularidade por singularidade, o que nos iguala é que somos em alguma medida contraditórios, seja lá qual for o padrão ético.

A superexposição do juiz Sérgio Moro desperta a curiosidade se estamos diante de um herói nacional ou de um blefe sazonal.

Devo classificá-lo como o juiz ortodoxo que atuou no caso Banestado sem pirotecnia ou como o juiz heterodoxo que comanda a Operação Lava Jato sem circunspeção?

“Uma parte de mim pesa, pondera. Outra parte delira.” A poesia de Ferreira Gullar é de uma beleza! Caso um juiz se permita na execução do seu trabalho a bipolaridade expressa nos versos de Gullar, que ao menos oscile os delírios nos diferentes casos. Caso contrário, será taxado de tendencioso ardiloso.

O Moro é um simples mortal. Bonito vê-lo ao lado do Aécio Neves parecendo um colegial peralta. Descontraído e risonho. Mas vocês devem lembrar do Moro implacável que ordenou a condução coercitiva do Guido Mantega, ainda que o ex-ministro estivesse acompanhando a sua esposa no hospital.

“Uma parte de mim é permanente; outra parte se sabe de repente.” A vagueza humana não é defeito de fábrica, é meramente humano. Gullar lembra-nos que estar vivo é ser capaz de surpreender-se consigo mesmo. Não me ressinto das fraquezas do Sérgio Moro, espanta-me o colocarem num lugar em que o personalismo prescinda do sistema jurídico.

O juiz discreto que não oscila quanto a cor do terno transformasse num jovem simpático quando o compromisso é subir aos púlpitos para agradecer os prêmios. Diferente dos ex-presidentes, Sérgio Moro não precisa de container para armazenamento de acervo. Os presentes que tem recebido são imateriais, bens simbólicos. Vai precisar de anos para talvez conseguir mensurar os ônus e os bônus decorrentes da sua atuação na Operação Lava Jato. Recompensas para a vida toda.

Sérgio Moro vazou para a Rede Globo a conversa telefônica entre a então Presidente da República Dilma Rousseff com o Ex-Presidente Lula, sob a alegação de que o suspeito não poderia ser nomeado ministro e assim adquirir foro privilegiado. No caso recente da tentativa do Presidente ocasional nomear Moreira Franco como ministro, o magistrado Moro atua com parcimônia. Sem alardes nem gestos heroicos.

Gosto da poesia “Traduzir-se” musicada. Seja cantada pelo “coxinha” Raimundo Fagner ou pelo “petralha” Chico Buarque. Artistas magníficos de primeira grandeza. No entanto, a imagem circunspecta do juiz Sergio Moro traduz muito melhor os versos de Gullar do que as sonoridades propostas por Raimundo e Chico. Ao menos nas minhas lembranças seletivas e ambíguas.

“Uma parte de mim almoça e janta; outra parte se espanta.”

2 comentários:

Anônimo disse...

Enorme enigma: Collor=Moro. O Caçador de Marajás=Caçador de Corruptos...

Cezar Ubaldo disse...

Moro é um brefe. Não há seriedade naquele que está como juiz e só tem um olhar.Ah, com certeza ele não conheço a poesia de Ferreira Gullar.
Aliás, o bebê é de todo o judiciário.