domingo, 12 de fevereiro de 2017

Datafolha, Doria e a bolha midiática

Por Altamiro Borges

Vaidoso e egocêntrico, a playboy João Doria – o Júnior – deve estar transbordando de alegria. A pesquisa Datafolha divulgada neste domingo (12) aponta que 44% dos paulistanos consideram a sua gestão na prefeitura boa ou ótima. Outros 33% acham o seu governo regular e apenas 13% avaliam que é ruim ou péssimo – 10% não opinaram. A sondagem serve para acariciar o ego do novo prefeito, estimula seu apetite para voos mais altos e gera até ciumeira nos velhos tucanos que sempre torceram o bico para o novato. Mas ela não representa muita coisa – ou melhor, não representa nada. É pura jogada de marketing!

Com menos de dois meses de mandato, o novo prefeito investiu pesado na sua imagem. Ele se fantasiou de gari, andou de cadeira de roda, colocou máscara para apagar grafites e não parou de tagarelar em entrevistas. Neste esforço publicitário, o experiente apresentador de televisão montou uma equipe própria de filmagem e despejou recursos nas redes sociais. Ele também contou com os holofotes da mídia chapa-branca de São Paulo, principalmente dos canais de tevê – sabe-se lá a que preço. É evidente que toda esta exposição renderia frutos, principalmente em uma megalópole com tantos “midiotas” por metro quadrado.

A própria pesquisa aponta que esta estratégia de marketing tem dado resultado nestes primeiros dias de gestão. “Uma agenda extensa que inclui reuniões das 7h às 22h em seu gabinete, além de atividades midiáticas de zeladoria resumem a receita para apresentar aos paulistanos a imagem de um trabalhador a favor da cidade neste início de mandato. Os números do Datafolha mostram, por exemplo, que 71% o consideram muito trabalhador... Para registrar essa marca, o prefeito utiliza sua página numa rede social, com mais de um milhão de seguidores. Nela, divulga de visitas a hospitais a intervenções com roupa de gari, ‘em sinal de humildade’, como justifica. Ele é considerado humilde por 66% dos entrevistados”, analisa a Folha.

Mas nem todos os paulistanos são seduzidos por estas ações demagógicas e midiáticas. A sondagem mostra que entre aqueles com renda familiar mensal de até dois salários mínimos, a aprovação de João Doria é de 35%. Entre os que têm renda superior a dez salários mínimos, a aprovação sobe para 66%. A pesquisa também aponta que muitos já o enxergam como o prefeito dos ricaços: 35% avaliam que ele dá mais atenção aos bairros ricos, contra 20% que afirmam que ele está preocupado com os pobres. Em recente matéria, a própria Folha mostrou que ele abandonou a periferia e priorizou a agenda com empresários.

Nem mesmo as bravatas do “gestor moderno”, que firma parcerias com empresas para ajudar São Paulo, está convencendo os paulistanos. Para 73% dos entrevistados, os falsos filantropos só topam contribuir porque têm interesse em seus próprios negócios com a prefeitura. Apenas 20% acham que as doadoras querem ajudar a cidade. Ou seja: a turma está desconfiada. As próximas ações do demagogo João Doria é que definirão a sua popularidade. É bom lembrar que em abril de 2013, após cem dias de gestão, o prefeito Fernando Haddad (PT) tinha 31% de aprovação, segundo o mesmo Datafolha – índice que despencou para 17% no final da sua gestão. A vida é muito cruel para os prefeitos paulistanos.

Como alerta Eduardo Scolese, editor de “Cotidiano” da Folha, “o mandato é de quatro anos, portanto comemorar um mês de sucesso de crítica seria prematuro. Todo esse exibicionismo irá se virar contra o prefeito, se, por exemplo, crescerem os acidentes nas marginais, os pacientes que fizerem exames médicos entrarem numa longa fila de cirurgias e as prometidas milhares de vagas em creches não avançarem. Por isso, Doria corre. Ele sabe que a tarifa de ônibus congelada e a paciência do paulistano não são eternos”. A conferir as próximas pesquisas, inclusive as do “Datafalha”.

Em tempo: Em artigo publicado no Jornal GGN, intitulado “O prefeito marqueteiro e o jornalismo merchandising”, o colunista Sérgio Saraiva alerta para os interesses sinistros do Datafolha. “A pesquisa é extemporânea e o porquê está no próprio texto da matéria: ‘O levantamento atual não permite comparações com os prefeitos anteriores, já que pesquisas de avaliação nos últimos mandatos foram feitas somente após os cem primeiros dias de gestão’. Ora, se a própria Folha reconhece que a pesquisa é prematura, por que foi executada?”. De fato: muito estranha esta sondagem do “Datafalha”. Será que rolou algo por debaixo do pano?

2 comentários:

Paulo Filho disse...

Normal tendo em vista que São Paulo é uma cidade que tem uma população que não pensa por si mesma, são teleguiados por uma mídia promiscua.

Anônimo disse...

Gosto muito de ler esta coluna. Troquei a rede Globo, Folha de São Paulo, por estas colunas que me deixam feliz. Pois me dizem para ter esperança no jornalismo e jornalistas.
Não lutei contra a ditadura militar para chegar onde chegamos.
Obrigada, continuo com você.