quarta-feira, 26 de outubro de 2016

A enganação golpista e a turma da bufunfa

Por Paulo Daniel, na revista Fórum:

Antes e durante o processo de impedimento/golpe contra a presidenta eleita Dilma Rousseff (PT), muito se comentava que a economia brasileira melhoraria seus níveis de confiança bem como dos capitalistas e os tão desejados retornos positivos de investimento, elevação da renda e geração de empregos. Vários ditos analistas de mercado tinham a pachorra de arrotar aos ventos que a economia iniciaria seu período de retomada já no terceiro trimestre de 2016.

Não tenhamos dúvidas, o processo de recessão pela qual passamos deriva das complicações internacionais, mas também, do forte ajuste iniciado no segundo governo Dilma e, continuado pelo golpismo, mesmo com previsão de deficit nas contas públicas de R$ 170,5 bilhões. Além, evidentemente, do caos político e da seletividade jurídica pela qual o país se encontra.

Logo quando o golpismo assumiu, a turma da bufunfa e seus asseclas já emitiram sinais de confiança e cobrança. Confiança, pois sentem-se mais “livres” para perambularem entre o mercado de ações e o lindo e rentável mundo dos títulos públicos. E a cobrança advém das chamadas reformas (Fiscal, Trabalhista, Previdência etc.) com vistas a garantir esta liberdade.

Por outro lado, o governo golpista, desde seu período de interinidade, em hipótese alguma, pretendeu abalar a confiança de seus senhores (capitalistas nativos e forâneos) e desde pronto, foram articulando sem pudores, as tão propaladas reformas.

Pois bem, desde seus primeiros encaminhamentos, o ministro golpista Henrique Meirelles sempre afirmava em todas suas entrevistas, que a economia iria se recuperar e, em mais recentes anúncios, afirmou; já estamos iniciando nossa recuperação. Com toda certeza, independentemente do governo, essa é uma das principais tarefas de um ministro da fazenda/economia em qualquer parte do planeta, ou seja, transmitir confiança aos capitalistas, pois são somente estes que possuem a capacidade de investir.

Entretanto, ao avaliar os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Banco Central entre outros, em nenhum momento e principalmente desde maio/2016, há sinais de qualquer recuperação da economia brasileira, sejam eles a indústria, comércio e serviços, isso sem contar o crescimento cotidiano do desemprego e redução da renda. Neste sentido, alguns inocentes úteis equivocaram-se em suas análises e/ou desejos; que com a defenestração de Dilma e do PT do governo central, tudo melhoraria.

O atual cenário é horrendo para aqueles(as) que vivem do trabalho, mas a turma da bufunfa está bastante satisfeita com seus servos no governo central, pois além de construírem uma agenda que lhes interessa, estão aumentando sensivelmente seus rendimentos, haja vista, os rendimentos generosos, pouco mais de 34% em 2016, na Bolsa de Valores brasileira cuja composição de seu índice é formada por 59 ações, bem como a remuneração nos títulos públicos e privados, por conta dos juros altíssimos praticados e capitaneados pelo governo central.

A turma da bufunfa não é somente um tipo de capital, mas sim, o capital no seu conjunto, e nestes momentos de crise, deixam de aumentar a capacidade produtiva (geração de emprego e renda) e ampliam suas formas de valorização em especulações acionárias e em títulos públicos brasileiros com uma das maiores taxas de juros reais do mundo. Para esses, independentemente do governo, nunca houve crise.

Portanto, não há possibilidades, neste momento, ou quaisquer sinais estatísticos ou macroeconômicos de recuperação da economia no que diz respeito aos investimentos (formação bruta de capital fixo), comércio e serviços por alguns motivos; crise internacional, juros internos altíssimos, queda do gasto público, queda da renda e demanda interna e, também, o que coloca os capitalistas em compasso de espera, é a tão desejada aprovação das ditas cujas reformas pelos seus servos palacianos.

Esta possível mudança do arcabouço estrutural do capitalismo periférico brasileiro nos torna ainda mais subordinados ao capital forâneo, infelizmente, essa é a tradição histórica, em maioria, dos(as) capitalistas brasileiros(as) perante aos chamados países desenvolvidos. Aos trabalhadores(as) cabe seguir lutando contra esse período funesto que ameaça a construção de uma sociedade relativamente cidadã.

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