domingo, 9 de janeiro de 2011

Bíblia, crucifixo e moda. A Folha surtou

Por Altamiro Borges

A Folha pirou de vez. Num único dia, neste domingo (9), o jornal da famiglia Frias publicou duas matérias ridículas. Com chamada de capa e título escandaloso – “Bíblia e crucifixo são retirados do gabinete de Dilma no Planalto” –, noticiou que “em sua primeira semana, Dilma Rousseff fez mudanças em seu gabinete. Substituiu um computador por um laptop e retirou a Bíblia da mesa e o crucifixo da parede. Durante a campanha eleitoral, a então candidata se declarou católica e foi atacada pelos adversários sob a acusação de ter mudado suas posições religiosas”.

FHC "frita" Serra. Ele se garante?

Reproduzo o corrosivo comentário de Augusto da Fonseca, publicado no blog Festival de Besteiras da Imprensa:

Está no blog do Josias de hoje:

"FHC adere à tese da fila e defende opção Aécio-2014".

Segundo o Josias, FHC “acha que não há justificativas plausíveis para sonegar a Aécio a oportunidade de apresentar-se como o presidenciável da legenda na próxima disputa.

Além da lógica da fila, invoca o desempenho eleitoral de Aécio. Elegeu-se senador e acomodou um sucessor, Antonio Anastasia, na cadeira de governador de Minas.

Em diálogo recente com um ex-ministro de seu governo, FHC soou peremptório quanto à preferência por Aécio.”

Todo mundo sabe do “jeito Serra de fazer política”.

Será que o FHC não tem nenhum “rabo preso” que dê armas ao Serra para operar no sentido de que “a fila não ande“?

Quem sobreviver, verá!

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Wikileaks e os podres poderes

Reproduzo artigo de João Brant, publicado no jornal Brasil de Fato:

A enxurrada de informações trazidas pelo Wikileaks desde o final de novembro é um fato incontestavelmente relevante. Embora o grupo já atuasse com vazamento de correspondências sigilosas há alguns anos, a mudança de estratégia de divulgação somada ao aumento da quantidade de informações fez os efeitos de agora serem avassaladores.

A maior parte do que foi relevado não surpreende nenhum militante bem informado, mas ajuda a desconstruir o argumento de 'teorias da conspiração'. O império age como império; e ponto final. Mais que isso: tem aliados confiáveis em altas posições do governo brasileiro. Tudo aquilo que você sempre leu na ótima cobertura internacional deste Brasil de Fato soa mais verdadeiro do que nunca.

É claro que junto com qualquer ação que afete o império vem a reação conservadora. Aí vale a interrogação proposta por Boaventura de Sousa Santos em texto recente: “irá o mundo mudar depois destas revelações?”. Ele mesmo responde: “a questão é saber qual das globalizações em confronto – a globalização hegemônica do capitalismo ou a globalização contra-hegemônica dos movimentos sociais em luta por um outro mundo possível – irá beneficiar mais com as fugas de informação”.

Os EUA tentam empurrar para o mundo todo uma agenda de combate aos crimes na internet, que na verdade serve duplamente a seus próprios interesses: no âmbito político, permite a vigilância e a defesa dos interesses de seu governo; no econômico, protege os interesses das grandes empresas, especialmente aquelas que ganham rios de dinheiro como intermediárias de direitos autorais.

No Brasil, o embate entre aqueles que dizem combater os crimes na internet e aqueles que defendem a liberdade e a privacidade na rede tem seu ápice no debate do Projeto de lei 84/99, conhecido como “AI-5 Digital”, que alguns deputados ainda tentam aprovar no lusco-fusco de seus mandatos.

É preciso ficar atento e se organizar para que as forças reacionárias não utilizem esse momento para fazer avançar sua agenda conservadora. O Wikileaks abre uma janela, mas depende de nós garantir que por ela não entrem larápios e fantasmas que andam muito vivos.

* João Brant é integrante do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social.

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Fácil de entender, difícil de usar

Reproduzo artigo de Mauricio Dias, publicado na revista CartaCapital:

Assustam aos mais desavisados, e é mesmo possível que provoquem certa inquietação até de figuras do governo, as notícias diárias anunciando a insatisfação do PMDB com a montagem político-administrativa do recém-nascido governo de Dilma Rousseff. Para quem se alimenta das fofocas políticas e se esforça para promover o dissídio na base governista do Congresso, isso é o prato cheio no qual a mídia se farta. É muito difícil, porém, imaginar uma manchete anunciando que o PMDB rompeu formalmente com o governo Dilma. Aí, sim, haveria uma crise verdadeira. Mas de um lado e de outro.

Por enquanto, o PMDB luta para garantir espaços ainda não ocupados na administração federal. Faz um jogo de pressão, comum nesses casos por disputa de cargos. Foi assim também em 1995, quando era aliado dos tucanos no governo FHC. O partido também blefou naquela ocasião, como faz agora, quando fala em apoiar a elevação do patamar do salário mínimo, em 2011, acima dos 540 reais fixados ainda na gestão Lula.

Após o ministro da Fazenda, Guido Mantega, dizer que o aumento acima de 540 seria vetado, o líder peemedebista na Câmara, Henrique Alves, falou, na terça-feira (4): “Não estou convencido sobre o valor de 540 reais ser ideal”. Evidentemente há mais preocupação com o blefe do aliado Alves, líder de um partido com 78 parlamentares na Câmara dos Deputados, do que com a bazófia do deputado Paulo Pereira da Silva, líder máximo da Força Sindical, mas integrante do PDT, cuja bancada tem somente 28 integrantes.

Alves falou na sequência de mais um confronto perdido. Dessa vez pela indicação do presidente da influente Fundação Nacional de Saúde (Funasa), o braço do Ministério da Saúde com o mais alto orçamento para 2011, com 4,7 bilhões de reais. A Funasa, feudo do PMDB, tem sido até agora fonte de escândalos criados a partir de denúncias de corrupção no órgão. No dia seguinte, quarta-feira (5), o vice-presidente peemedebista, Michel Temer, falou mais forte. Disse que o aumento seria “o possível” e que o PMDB “não votará contra o governo”. Garibaldi Alves, senador, primo de Henrique, elevado à condição de ministro da Previdência Social, alertou que acima do fixado haverá impacto grande nos cofres da Previdência.

Em 1980, após a ditadura militar desmanchar o bipartidarismo existente (Arena versus MDB) e exigir das novas agremiações a adoção de um “P”, de partido, surgiu o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) que, além de se tornar um aglomerado político importante para a sustentação de qualquer governo pós-ditadura, adquiriu uma característica especial: fácil de entender, mas difícil de usar.

Isso não é um pecado original. É, sim, o resultado do trauma surgido depois da rejeição da emenda das eleições diretas e, posteriormente, com a punhalada nas costas do deputado Ulysses Guimarães, na competição presidencial de 1989. Naquele ano, quando se realizou a primeira eleição direta após a indireta de Tancredo Neves em 1985, os executivos pe-emedebistas sacrificaram eleitoralmente o maior e melhor líder do PMDB no altar do pragmatismo conservador. Para evitar a vitória de Lula, bandearam-se para a candidatura de Collor. Ulysses ficou em constrangedor quarto lugar na corrida presidencial. Um episódio mais clamoroso do que aquele de 1950, quando o PSD apoiou Getúlio Vargas após abandonar Cristiano Machado, candidato do partido. Vem daí o neologismo muito utilizado no universo eleitoral brasileiro: “Cristianização”.

Sem Ulysses, e já sem o moderado Tancredo, o partido tornou-se uma confederação formada por líderes estaduais. A partir desse episódio, sem um nome eleitoralmente viável para a disputa do cargo maior, o PMDB busca os cargos menores impelido pela necessidade de ganhar mais prefeituras (controla, há anos, o maior número de municípios, atualmente são 1.203) e formar grandes bancadas nas assembleias legislativas que mantêm a continuidade de numerosa força na Câmara e no Senado. Assim, a partir do uso da máquina administrativa, tem se mantido à mesa do poder em Brasília. Esse é o tônico revigorante da legenda.

Sem qualquer identidade programática, que dificulta a aliança com o PT, tornou-se um fator matemático de governabilidade para qualquer governo. Por isso, a presidenta Dilma Rousseff surpreendeu quando deslocou o PMDB de três ministérios: Saúde, Transportes e Comunicações. Eram postos fixos do partido no governo Lula. Este é o desafio que ela decidiu enfrentar e que gera os efeitos de agora.

O código eleitoral 15, o número do PMDB nas eleições, tem sido igualmente imprescindível para o partido. A bancada numerosa na eleição de 2010 propiciou 3 minutos e 11 segundos na televisão para a candidata do PT, que dispunha de 3 minutos e 5 segundos. A situação vai se inverter na eleição de 2014 a partir da eleição de 2010. Os petistas, em maior número (88 deputados), superaram o PMDB (78 deputados).

Por tudo isso o PMDB resiste a ceder. Ou melhor, se dobra com dificuldades a abandonar posições a favor do PT na máquina do Estado. Michel Temer é a novidade nessa aliança. Bom para o PMDB, ruim para o PMDB. Ele é o grande avalista da aliança e, nesse momento, pisa em ovos com a disputa açodada por cargos e a exposição pública da legenda que já tem quatro ministros e mantém várias posições no segundo escalão. A reação do PMDB tem, ainda, um objetivo oculto nos debates. Mas vai emergir logo, logo. Quer manter o controle político de Furnas, estatal sediada no Rio de Janeiro e guarnecida pelo deputado peemedebista Eduardo Cunha. Um nome que dispensa apresentações.

O que se diz é que, nesse ponto, Dilma cederá como cedeu a Previdência Social. Ao ser escolhido para esse ministério, o senador Garibaldi Alves disse que recebia um “abacaxi”. Uma fruta que dispõe, entre tantos outros recursos de ação política, de 27 indicações para as superintendências estaduais, as quais, por vez, podem fazer nomeações para centenas e centenas de postos de atendimento público.

Talvez ele não saiba como descascar o abacaxi, mas sabe que a fruta é saborosa.

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Mídia valoriza disputa entre PT e PMDB

Reproduzo artigo de Virginia Toledo, publicado na Rede Brasil Atual:

A velha mídia alimenta e enfatiza supostas divergências entre os partidos aliados na composição do governo – como se não fosse natural haver disputa por espaço entre partidos que irão compor um governo de coalizão. A opinião é do professor da Universidade de Brasília (UnB) Venicio Artur de Lima, referindo-se ao sabor de "crise política" que alguns jornais veem entre PT e PMDB nos primeiros dias de mandato da presidente Dilma Rousseff.

Desde a posse, os dois maiores partidos da situação protagonizam o debate em torno da ocupação dos cargos que compõem a máquina pública, principalmente os chamados cargos de segundo escalão, aqueles que serão subordinados aos ministros e executivos de estatais já indicados durante o processo de transição.

"Está tudo tranquilo, não há problemas. A presidente Dilma já colocou o Palocci no circuito", disse Valdir Raupp, presidente interino do PMDB, ao afirmar, na quarta-feira (5), a missão do atual ministro da Casa Civil como intermediador das discussões.

Em entrevista a jornalistas nesta sexta-feira (7), o ministro da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Luiz Sérgio, reiterou a afirmação de que não há crise entre os partidos. “Este é um governo de coalizão. Num governo de coalizão, é normal que partidos queiram participar [do governo]. Num primeiro momento, sempre há uma movimentação que pode dar uma sensação de crise. Na verdade, não há crise. Este é um processo natural”, disse.

Para Venício Lima, a cobertura política da mídia amplifica os "factoides", com a finalidade de dar ao início de mandato da presidente eleita um ar de anormalidade na ordem política. "O conflito e a disputa fazem parte, sobretudo quando se tem partido aliado. A composição do governo da Dilma é de um leque amplo de forças políticas. É natural que os dois maiores partidos usem recursos para ocupar mais espaço no poder", explica o professor.

Venício vê na conduta da mídia sinais de "má vontade" na cobertura política, na mesma proporção como era tratado o governo Lula. "Eu esperava que isso pelo menos fosse ter uma trégua até que as coisas se definissem", lamenta.

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Alckmin demite serristas; tucanos se bicam

Por Altamiro Borges

A revista Veja, quem diria, rompeu a blindagem protetora dos tucanos. Não deu manchete e nem fez estardalhaço, como é usual quando ataca os seus adversários, mas confirmou um boato que já corria pelos bastidores da política: os tucanos estão se bicando de forma sangrenta. Com o título “Alckmin demite funcionários da gestão José Serra”, a repórter Carolina Freitas informa que, em apenas quatro dias, “foram assinadas 39 ordens de exoneração do governo”, incluindo os secretários-adjuntos da Justiça e dos Transportes, o superintendente do Departamento de Estradas de Rodagem e três chefes de gabinete.

Eles não conseguem esquecer o Lula

Reproduzo artigo de Ricardo Kotscho, publicado no blog Balaio do Kotscho:

Faz uma semana hoje que o Brasil mudou de presidente. Como todo mundo viu, saiu Lula, entrou Dilma, um novo governo assumiu, a roda da história girou, a fila andou. Para certos setores da imprensa brasileira, no entanto, que até hoje não se conformam com a vitória de Lula em 2002 e 2006, e o sucesso dos oito anos de seu governo, aprovado ao final por 87% da população, é como se nada houvesse mudado.

Parece obsessão _ e é. Entre as perturbações mentais mais comuns, a obsessão compulsiva caracteriza-se pela presença de ideias, de imagens ou de impulsos recorrentes, segundo o Manual Muck da Biblioteca Médica Online.

Dia sim, noutro também, eles não conseguem virar o disco, mudar de assunto. Lula continua sendo o assunto dominante nas manchetes, nas colunas, nos blogs. A única diferença é que, quando ele ainda estava no governo, o presidente respondia aos ataques no mesmo tom, dando a sua versão dos fatos, o que levava a imprensa a falar em ameaças à liberdade de expressão.

Agora, não. É um monólogo do pensamento único. Só um lado investiga, denuncia e julga, sem dar tempo para que as instituições se manifestem. Até entendo o comportamente de editores, colunistas, blogueiros e repórteres da grande mídia, que afinal ganham para isso ou pensam mesmo aquilo que escrevem em seu nicho de mercado.

Mas o massacre é de tal ordem que atingiu até alguns leitores do Balaio, principalmente aqueles que usam codinomes; não importa o tema tratado, escrevem comentários com a mesma ferocidade dos tempos da campanha eleitoral que acabou faz mais de dois meses.

Neste clima, pouco importa se o ex-presidente tem ou não razão ou direito nos atos adotados em seus últimos dias de governo e na primeira semana depois de passar a faixa. Nem tudo o que a lei permite é eticamente recomendável, eu sei. Não estou aqui para julgá-lo ou defendê-lo, não ganho para isso. Posso discordar dele em várias coisas, mas me espanta o tratamento raivoso e vingativo dado a Lula fora do governo em comparação aos seus antecessores.

Qualquer coisa que o agora ex-presidente faça ou deixe de fazer é motivo de críticas, denúncias, editoriais irados, como se devesse simplesmente desaparecer do mapa para ter um pouco de paz.

Nestes primeiros dias de 2011, procurei tratar de assuntos mais amenos, fugir da eterna pauta política de confronto entre governo e oposição, mas está difícil. Cada um entende o que quer, enxerga intenções que não tive e usa qualquer argumento para avivar a guerra ideológica. Até quando?

Agora vou à praia, atendendo a um convite do sol. Bom fim de semana a todos.

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