sábado, 19 de junho de 2010

Futebol, um esporte vendido à TV

Reproduzo artigo do professor Laurindo Lalo Leal Filho, publicado no sítio Carta Maior:

Enquanto a Copa segue hegemônica nos noticiários de TV, o silêncio cobre outros fatos importantes ligados ao futebol. Na mesma semana da estreia do Brasil, os vereadores de São Paulo deram uma guinada espetacular e mantiveram o veto do prefeito Kassab à lei, por eles mesmos aprovada, que proibia jogos de futebol na cidade com início depois das 21h15.

Quem marca o horário dos jogos noturnos para às 21h50 são os programadores da Rede Globo. Para eles o futebol é apenas mais um programa da emissora que, por critérios mercadológicos, deve ser transmitido depois da novela.

Em abril, com 43 votos a favor e apenas dois contra a lei aprovada passava a impressão de altivez da Câmara, fato raro na vida política do município. Foi só impressão. Ao invés de manterem seus votos e derrubarem o veto do prefeito, os vereadores paulistanos, com quatro honrosas exceções, curvaram-se aos interesses da Globo. Até um dos autores do projeto, vereador Antonio Goulart, mudou de lado. O outro, Agnaldo Timóteo não apareceu para votar.

E assim os jogos na capital continuam terminando quase à meia-noite. Até pela TV, para quem tem que trabalhar cedo no dia seguinte, como faz a maioria da população, o horário é ruim. Agora para quem gosta de ir ao estádio é um sacrifício desumano.

Os vereadores paulistanos não se dobraram apenas aos interesses da Rede Globo. Eles passaram um atestado de incapacidade absoluta para enfrentar um modelo perverso imposto nas últimas décadas ao futebol brasileiro.

Até o final dos anos 1960 ainda havia algo de lúdico na prática e no espetáculo futebolístico. Lembro do Torneio Início, jogado uma semana antes da abertura do campeonato paulista, num dia só, com a participação de todos os clubes da primeira divisão. Eram jogos mata-mata, de 30 minutos (15 por 15) de duração onde, em caso de empate, ganhava o time que havia obtido mais escanteios a favor, antes da disputa dos pênaltis se fosse necessária.

Curioso era ver os maiores craques do futebol paulista, em volta do gramado, assistindo os jogos dos outros times enquanto esperavam a vez de entrar em campo. Havia um que de amadorismo resistindo às investidas da profissionalização definitiva. O Pacaembu ainda era, nessa época, uma extensão glamorosa dos campos de várzea que se espalhavam por toda a cidade.

A especulação imobiliária nunca contida pelos vereadores paulistanos – em qualquer legislatura – acabou com a várzea e quase acaba com o futebol na cidade. A sua sobrevivência se deu num outro nível, o da mercantilização absoluta. Dos jogadores e do jogo.

Os primeiros passaram a ser formados pelas escolinhas, acessíveis apenas à classe média, ou pelos centros de adestramento criados por empresários cujo objetivo é preparar os seus “produtos” para vendê-los no exterior.

O futebol assume nesse estágio a forma mercadoria em todas as suas etapas. Do berço do jogador à Copa do Mundo nada escapa. O esporte popular das ruas e das várzeas transformou-se num produto caro e altamente sofisticado, operando num nível elevadíssimo de racionalidade capitalista.

Diferente de outros setores da economia e mesmo da cultura, onde o Estado ainda atua para conter de alguma forma a voracidade do mercado, no futebol isso não acontece. Os objetivos privados são absolutos nem que para serem alcançados sacrifiquem-se atletas, torcedores e, no limite o próprio esporte, reduzido cada vez mais a um espetáculo de televisão.

Perderam os vereadores paulistanos a grande oportunidade de colocar o interesse público em primeiro lugar. Resta agora esperar, com bastante ceticismo, que projeto semelhante, apresentado na Câmara dos Deputados, e válido para todo o Brasil, prospere.

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O erro de Fidel: Maradona não é o melhor

Reproduzo artigo de Breno Altman, publicado no sítio Opera Mundi:

O líder histórico da revolução cubana, em artigo publicado na imprensa cubana nessa quinta-feira (17/06), intitulado “A contenda inevitável”, lá pelas tantas declara que Diego Maradona foi “o melhor jogador da história do esporte”. Fiquei estarrecido com a avaliação. Como é que pode um dirigente experiente e culto abraçar assim a ilusão que embala os argentinos?

Não é a primeira vez que expressa tal opinião. No final de 2001, durante reunião do Foro de São Paulo (a entidade que congrega os partidos de esquerda da América Latina), realizada em Havana, ouvi a mesma consideração. Estava cobrindo o evento para uma revista brasileira quando Fidel, depois do discurso de encerramento, derreteu-se em elogios ao boleiro portenho diante dos jornalistas presentes.

Confesso que fiquei indignado. Protestei com veemência, da platéia. Seguiu-se discussão ardida, mas bem-humorada. Logo vi que o comandante não entendia bulhufas de futebol. Estava era encantando com a solidariedade de Maradona à revolução cubana. Fiz o que qualquer apreciador sensato de futebol faria, contrapondo Pelé à sua nova idolatria. Meus argumentos, como era de se esperar, parecem ter sido solenemente desconsiderados.

Diego Maradona foi, sem dúvida, um grande craque. Brilhou nas equipes do Boca Juniors e Napoli. Conquistou a Copa do Mundo com o selecionado argentino em 1986, apresentando um desempenho espetacular. No saldo geral de sua carreira, marcou 345 gols em 678 partidas, em vinte anos nos gramados.

Driblava como um mágico. Tinha uma canhota impiedosa, que compensava sua direita meio cega. Baixinho e troncudo, o cabeceio não era seu forte. Mas equilibrava essas poucas debilidades com uma tremenda visão de jogo. Era um armador nato, sensacional, que servia ao time. Está entre os melhores, no panteão da glória esportiva.

Apenas os argentinos, contudo, por razões afetivas e patrióticas, têm direito de considerá-lo o número um. Ainda que, dizem as más línguas, nossos vizinhos ao sul achem Maradona o melhor do mundo e um dos melhores jogadores portenhos de todos os tempos...

A um líder do quilate de Fidel, porém, não caberia comprar esse gato por lebre. Se pudesse estudar o futebol com uma enésima parte do empenho e racionalidade que dedica aos problemas políticos e econômicos, perceberia o grave erro que está cometendo em sua afirmação. Maradona pode ser mais progressista que Pelé, mas revela-se abissal a distância entre o futebol dos dois astros.

Incomparável é a expressão mais modesta que pode ser dita sobre a estrela máxima do Santos e da seleção brasileira. Não é à toa que foi chamado, aos 18 anos incompletos, de rei do futebol. Meia como Maradona, marcou 1217 gols em 1285 partidas oficiais. Fez de seu time o melhor esquadrão jamais visto. Por três vezes esteve em campeonatos mundiais vencidos pelo Brasil.

Especialistas de todos os continentes o indicaram como o maior atleta do século XX. Era perfeito em todos os fundamentos da bola. Driblando, cabeceando, batendo de esquerda ou direita, dentro ou fora da área, em todas as formas e cores forjou-se como jogador insuperável. Nunca houve nem haverá craque como Pelé. Seu trono é uno e indivisível.

Sua arte alcançou tamanha estatura que fez dele, ao lado do pugilista Muhammad Ali e do corredor Jesse Owens, os únicos esportistas guindados ao cume da história humana, ao lado dos grandes artistas, intelectuais e líderes políticos, entre eles Fidel Castro Ruz.

Sem Pelé, talvez fosse inimaginável o papel do futebol como entretenimento de multidões e fator de construção da identidade nacional de tantos povos. Suas idéias e valores eventualmente tenham sido sempre conservadores, mas foi um dos primeiros negros e pobres a conquistar espaço em um mundo de ricos brancos.

O comandante deveria prestar mais atenção a essa história. Aos fatos, números, cenas e conquistas. Maradona é um amigo, mora do lado esquerdo do peito, companheiro Fidel, mas não é primus inter pares. Em nome da unidade latino-americana, e por seus próprios méritos, basta que seja tratado como o mais talentoso e rebelde súdito do rei de todos os campos e estádios, de todas as épocas e gerações.

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Mídia e Copa: o mundo reduzido ao futebol

Reproduzo artigo do professor Venício Lima, publicado no Observatório da Imprensa:

Não existe melhor exemplo para expressar aquilo que o professor canadense Marshall McLuhan (1911-1980) denominou “aldeia global”, há mais de quatro décadas. A tecnologia tornou possível que as imagens da Copa do Mundo de Futebol estejam disponíveis em todo o planeta, ao vivo, simultaneamente.

Haverá outro evento midiático capaz de interessar e mobilizar tanta gente? No Brasil, quando está envolvida a “seleção canarinho”, já dizia com propriedade Nelson Rodrigues: é a pátria que está de chuteiras.

São trinta dias corridos, cerimônias de abertura e encerramento, 64 jogos ao vivo (124 horas), treinos, entrevistas, reportagens especiais, etc. etc. Duas redes abertas – a Globo e a Band –, os canais de esporte da TV paga e as demais emissoras (que não estão transmitindo os jogos), com programação especial. Só a Globo tem 300 pessoas na Copa: 220 profissionais que foram do Brasil e mais 80 terceirizados contratados na África do Sul. E, por óbvio, não é só a televisão, nem o rádio. Jornais e revistas também “entram no clima” da Copa.

Ademais, é neste dias que a predominância da lógica comercial da grande mídia se revela em sua dimensão plena. Além da “Jabulani” que rola, há muito dinheiro em jogo. E claro, o mundo da grande mídia parece reduzido ao futebol.

A British Petroleum

Um amigo chama minha atenção para a cobertura “enviesada” que a grande mídia está fazendo, nestes dias de Copa do Mundo, do gigantesco vazamento de óleo provocado pela empresa “inglesa” Bristish Petroleum, no golfo do México. Segundo ele, este pode ter sido o maior desastre ecológico do mundo. Todo o golfo poderá ter sua fauna e flora marinha comprometida de forma irreversível. E, no entanto, a grande mídia, não dá ao desastre a dimensão que ele deveria ter.

Primeiro, na maioria das vezes, a grande mídia se refere à British Petroleum apenas como “BP”. Estaria em andamento uma estratégia de RP para, escamotear de qual país é a empresa responsável pelo desastre ecológico?

Segundo, onde está o Greenpeace? Onde estão O Globo, a Rede Globo, a Folha, o Estadão, a CBN e seus “analistas políticos”, os "econômicos", os "apresentadores", as "ONGs", ambientalistas, verdes, igrejas, atores hollywoodianos? Onde estão todos que se manifestaram ruidosamente por ocasião do leilão da hidrelétrica de Belo Monte?

Terceiro, a grande mídia faz o jogo da Casa Branca, anunciando que o presidente Barack Obama “quer saber em quem ele tem que dar um chute no traseiro”, como se um acidente que é devastador para a humanidade pudesse ser resolvido dessa forma.

E por último, há comentaristas que tentam até mesmo trazer a questão para o Brasil insinuando que o desastre no Golfo do México “deve alertar os brasileiros para a exploração e prospecção da Petrobrás no pré-sal”.

Interesse público

Por óbvio, os problemas da cobertura do desastre ecológico provocado pela British Petroleum no golfo do México não ocorrem apenas em períodos quando a agenda midiática está inteiramente submetida à lógica comercial de eventos da proporção de uma Copa do Mundo. Nestes períodos eles apenas se acentuam.

Por isso – e apesar de todo o envolvimento histórico cultural que os brasileiros temos com o esporte bretão – nunca é demais lembrar que, mesmo em época de Copa, o interesse público vai muito além do entretenimento e o mundo não se reduz ao futebol.

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Copa 2010: Consensos de Roma e Washington

Reproduzo artigo de Breno Altman, publicado no sítio Opera Mundi:

O ano de 1990 foi marcante por vários motivos. A última década do século XX abria-se com os derradeiros suspiros da União Soviética e a consolidação da hegemonia dos Estados Unidos. O modelo vitorioso, baseado no predomínio do livre-mercado, era oficialmente adotado como receita oficial pelas instituições financeiras. Em homenagem à cidade onde economistas do FMI, do Banco Mundial e do Departamento do Tesouro norte-americano elencaram seus mandamentos, a fórmula acabou batizada como Consenso de Washington.

No universo paralelo do futebol, a Itália abrigava a XIV Copa do Mundo. Na opinião de muitos analistas, a mais feia e encardida de todas as disputas entre seleções desde 1930. Como se as utopias e os sonhos de uma nova sociedade, fulminados pela derrocada soviética, tivessem seu ocaso transposto, de alguma maneira, também para o império da bola. Mas em um sentido eventualmente inverso: a magia e a arte cediam lugar à tecnocracia e à engenharia.

Com a exceção solitária da esfuziante equipe de Camarões, as demais seleções sucumbiram ao futebol-força praticado pelos europeus, particularmente alemães e italianos. Forjava-se o Consenso de Roma. Bons resultados somente seriam alcançados com estratégias de predomínio defensivo, meio-campo dedicado à marcação, submissão da técnica à tática, velocidade de contra-ataque e substituição do toque e do drible pelos lances aéreos e bolas paradas.

Os argentinos de Maradona e Caniggia, é verdade, resistiram um pouco à ofensiva conservadora. Mas foram apenas uma sombra do selecionado criativo e audaz de 1986. Caíram na final, diante da Alemanha, exibindo um futebol desidratado e sem inspiração. Ao contrário do que ocorrera na copa anterior, quando derrotaram o mesmo adversário em uma partida cheia de emoção e invenção.

O caso mais emblemático de subordinação aos ditames europeus, no entanto, provavelmente tenha sido a seleção brasileira. Pelo papel que representa no imaginário dos estádios, a capitulação do time dirigido por Sebastião Lazaroni expressou momento sublime para a consolidação do futebol-planilha. O Brasil, lendário bastião da liberdade e do espetáculo nos campos da bola, se dobrava à hegemonia de líberos e volantes mesmo às custas da humilhação.

O técnico Lazaroni é um personagem menor, quase insignificante. Mas a ele coube a missão de domesticar o futebol brasileiro depois das derrotas de 1982 e 1986. Não deixa de ser ilustrativo que um treinador irrelevante tenha sido o coveiro da tradição brasileira. Outros vieram depois dele, mais preparados e vitoriosos. O criador da era Dunga, porém, do alto de sua mediocridade, foi quem abriu os portões para a cavalaria tártara do burocratismo ítalo-saxônico.

Essa tarefa somente poderia estar nas mãos de uma figura inexpressiva, que pudesse ser moldada pelos interesses da elite futebolística e seus patrocinadores. O longo tempo sem títulos mundiais atrapalhava os negócios. O estilo reverenciado por Telê Santana passou a ser visto como incompatível com o triunfo e a caixa registradora.

Lazaroni foi parido pelo complexo de inferioridade tão próprio às oligarquias nacionais, inclusive aquelas que mandam no futebol. As derrotas nas duas copas anteriores não podiam ser analisadas, por essa gente e seus áulicos na imprensa, como eventualidades ou acidentes naturais ao esporte. Nada disso: a seleção brasileira tinha perdido porque insistira em ser diferente quando o mundo era cada vez mais homogêneo.

O que veio em seguida é história. O Brasil ganhou e perdeu copas nos marcos desse conservadorismo. Mesmo com alguns jogadores fantásticos, nunca mais voltou a dar espetáculos como na safra do tricampeonato ou nas antológicas derrotas de 1950 e 1982. O medo nos fez escolher sermos iguais aos piores. A vitória de 1994, para tristeza da arte, carimbou essa opção como virtuosa.

Sequer os novatos africanos, a bem da verdade, escaparam dessa força gravitacional que empurra o futebol para o lugar comum. O livre fluxo de atletas e treinadores, determinado pelos recursos financeiros dos clubes europeus, consolidou um pensamento único também no mundo da bola.

Aqui termina, contudo, o paralelo entre os dois consensos. O de Washington, afinal, foi estraçalhado pela crise financeira atual. O de Roma ainda vive em apogeu. Quem sabe alguma seleção terá a coragem de romper com seu primado nos campos da África do Sul. Muito difícil que esse papel seja exercido pelo time de Dunga, o filhote de Lazaroni.

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A face ocultada do futebol

Reproduzo artigo do professor Laurindo Lalo Leal Filho, publicado no sítio Carta Maior:

Está no ar o maior espetáculo de televisão. Em audiência nada bate a Copa do Mundo. Na Alemanha, em 2006, os 64 jogos foram vistos por 26 bilhões de telespectadores, número que neste ano pode alcançar os 30 bilhões.

São 60 bilhões de olhos vendidos pela FIFA para as emissoras de TV comercializarem com os seus anunciantes. As cifras envolvidas em dinheiro são estratosféricas. Ganham a Federação internacional, as empresas de televisão e os anunciantes reforçando marcas e alavancando a venda de produtos e serviços.

Um ciclo perfeito, onde nada pode ser criticado. Normalmente, a TV no Brasil não critica os jogos transmitidos já que, dentro da lógica empresarial, seria um contrasenso mostrar defeitos do próprio produto. E o futebol, para a TV, nada mais é do que um dos seus produtos, assim como as novelas e os programas de auditório.

Dessa forma se todos ganham e não há criticas, o grande espetáculo do futebol, em sua dimensão máxima que é a Copa do Mundo, chegaria as raias da perfeição. Pelo menos é que mostra a TV.

Mas, e ainda bem que há um mas nessa história, a TV Brasil e a TV Câmara mostraram no programa VerTV alguns aspectos da face do futebol que é ocultada pela TV comercial. Sócrates, o capitão da seleção brasileira de 1982 e o jornalista José Cruz, levantaram algumas pontas do véu que cobre, não apenas o futebol, mas grande parte de toda a estrutura esportiva existente no Brasil.

Para começar não é verdade que todos ganham. Há quem perda, e são muitos. Por exemplo, os jovens que por força da TV associam desde cedo o sucesso esportivo com o consumo de cerveja. Ou desprezam o estudo, uma vez que seus ídolos não precisaram dele para alcançar a glória e a fama.

No programa, Sócrates foi enfático: “A TV vende o sonho do consumo. Vende atitude, aparência, comportamento, moda. Mas, é incapaz de vender educação. E vender esporte sem educação é um crime. Mostram ídolos do futebol que não estudam e são um péssimo exemplo para a sociedade. E não por culpa deles apenas. O sistema estimula que saiam da escola”.

Afirmação que desperta uma curiosidade. A mídia revela diariamente minúcias da vida dos jogadores. Onde vivem, que carros possuem, como são suas casas e suas famílias. Só não dizem até que ano estudaram, em quais escolas, como eram enquanto alunos. Por que será? Sócrates responde: “a ignorância dos jogadores é estimulada pelo sistema. A ele não interessam profissionais com possibilidade de critica”.

O jornalista José Cruz mostra outras perdas. De toda a sociedade. Por exemplo, com a irresponsabilidade dos dirigentes esportivos nos clubes, federações e confederações. Embora privadas, essas entidades recebem dinheiro público e, por isso, deveriam prestar contas publicamente. “As loterias esportivas repassam dinheiro para o futebol. A Timemania está hoje tapando o buraco das dívidas fiscais dos clubes produzidas por dirigentes irresponsáveis”.

E mostra outras perdas sociais. A do dinheiro público desperdiçado, por exemplo, nos Jogos Panamericanos do Rio, em 2007. Dá dois exemplos retirados do relatório do Tribunal de Contas da União: “a compra de 5 mil tochas para serem acesas no evento, das quais só chegaram 500 e, ainda assim apenas 380 foram aproveitadas e a descoberta, depois dos Jogos, pelos auditores do TCU, de 880 caixas contendo aparelhos de ar condicionado que sequer foram abertas. E tudo isso segue impune”.

Tanto Sócrates, como José Cruz, alertam para o fato da seleção nacional e dos seus jogos serem eventos públicos que, no entanto, estão totalmente privatizados. “A seleção brasileira – que usa as cores, o hino e a bandeira do nosso pais – deveria ter parte de suas receitas revertidas para o futebol brasileiro, muito pobre em várias regiões do Brasil”, diz o jornalista.

Sócrates lamenta o volume de recursos jogados fora pela falta de uma política esportiva de Estado. Para ele “o esporte deveria ser um braço da saúde e da educação. Se não ele fica solto” e aponta a deficiência dos cursos de Educação Física: “não há um que trate o esporte com viés comunitário. É tudo individualista”.

E há mais. Quem quiser saber basta entrar no site da TV Câmara, clicar em “conhecer os programas” e depois no VerTV. Lá revela-se um pouco do que a TV comercial teima em ocultar.

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Saramago fala do comunismo e ironiza a Folha



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Homenagens do MST a José Saramago

Reproduzo mensagem de João Pedro Stedile e poema de Ademar Bogo, dirigentes do MST:

A partida de nosso amigo Saramago!

A literatura universal e portuguesa, em especial, perde seu patrono maior. Samarago projetou como ninguem a beleza de nosso idioma em seus contos e ensaios. Como militante social, soube refletir no seu primeiro livro a tragedia do camponês português, "Plantados do chão", na luta para ver a terra dividida.

O MST teve o privilégio e a honra de ter seu envolvimento militante, quando somou-se ao projeto de Sebastiao Salgado e Chico Buarque, e nos ajudou a difundir com sua letra a exposição “Terra”. E graças aos livros e fotos dos três, pudemos iniciar a construção de nossa escola nacional. Seremos sempre gratos à sua solidariedade.

Pessoalmente, sinto-me extremamente lisonjeado por ter podido conhecê-lo. Deixou um legado enorme na literatura, na militancia e no compromisso com as causas justas. Por isso será eterno (João Pedro Stedile).

Suspiros Lusitanos (Ademar Bogo)

Se um suspiro, leve e lusitano

Zumbir nas almas das nações imensas

É o comunista que para além das crenças

Silenciosamente da vida física se dispensa.

Vai pessoalmente viver a eternidade

E olhar de perto na tez do criador

Que pelas criaturas foi subjugado

E obrigado a justificar o horror.

Irá verificar que as guerras entre os deuses não existem

Pois são apenas conflitos da existência

Que os homens criam e põe-se a conflitar

Pedindo a Deus que tome providências.

E faça sempre o mais forte vitorioso

Abençoado pelas cruéis vitórias

Para deixar nos livros registrados

Os escritos que reflitam a superior memória.

Tudo o que disse são sobre os seus dilemas

Ficam como dizeres formulados

Se não dava nem acreditava em conselhos

É porque queria vê-los por conta experimentados.

Os próprios passos seriam os conselheiros

E os conselheiros caminhantes e aprendizes;

Se os erros deveriam ser experiênciados

Com os acertos formariam matrizes.

Era a crença de um apaixonado

Que a si mesmo o saber se concedeu

Porque acima de todas as verdades

Acreditava que não existe o absoluto ateu.

Por sobre as oliveiras e as corticeiras

Versos e letras irradiarão verdades

A qualquer tempo virarão consciências

E viverás nos povos em forma de saudades.

Assim abrimos o tempo enlutado

Para purgar a dor do prejuízo humano

Se no passado choramos escravizados

Hoje, nossos suspiros também são lusitanos.

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