segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Máfia da SIP e a “liberdade de imprensa”

Numa nítida ação provocadora, a Sociedade Interamericana de Prensa (SIP) realizou neste final de semana, em Caracas, um “fórum de emergência para recuperar os espaços democráticos e de liberdade de imprensa em países com governos autoritários e populistas”. A máfia da mídia da América Latina, que patrocinou inúmeros golpes militares e deu apoio às ditaduras sanguinárias, está preocupada com o avanço dos governos progressistas na região e com a adoção de políticas públicas contrárias aos monopólios nos meios de comunicação. O governo venezuelano não se intimidou diante da provocação dos mafiosos da SIP, considerados personas non gratas no país.

O “fórum de emergência” reuniu os donos dos principais veículos do continente. O Brasil se fez representar pela Associação Nacional de Jornais (ANJ), que recentemente abandonou a comissão organizadora da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) e ainda tem a caradura de falar em “liberdade de expressão”. Os discursos foram raivosos, como se observa no próprio sítio da SIP. Os principais alvos foram os governos da Venezuela, Bolívia, Equador e Argentina, mas não houve menções ao golpe em Honduras, que teve o apoio das quatro famílias que controlam a mídia deste país e que já resultou em prisões de jornalistas e censura aos veículos independentes.

Entidade a serviço da CIA

A SIP não tem moral para falar em “liberdade de expressão”. Sediada em Miami, ela defende os interesses das corporações capitalistas, dissemina as políticas imperialistas dos EUA e reúne os setores mais reacionários da mídia. Ela se apresenta como “independente” dos governos, mas seu dirigente é primo do ministro da Defesa e irmão do vice-presidente da Colômbia. Num relatório recente, ela chegou a elogiar os “avanços” do governo narcoterrorista de Álvaro Uribe na relação com a imprensa, sendo que a Colômbia é um dos recordistas mundiais em assassinatos de jornalistas.

Num acalentado estudo, intitulado “Os amos da SIP”, o jornalista Yaifred Ron faz um histórico assustador desta entidade. Conforme comprova, “a Sociedade Interamericana de Imprensa é um cartel dos grandes donos de meios de comunicação do continente, que nasceu nos marcos da II Guerra Mundial e se moldou no calor da Guerra Fria para protagonizar uma história de defesa dos interesses oligopólicos, de aliança com os poderes imperiais e de atentados contra a soberania dos povos latino-americanos”. Com base em inúmeros documentos, ela prova que a entidade tem sólidos e antigos vínculos com a central de “inteligência” dos EUA, a temida CIA.

Ela foi fundada em 1943 numa conferência em Havana, durante a ditadura de Fulgencio Batista. Num primeiro momento, devido à aliança contra o nazi-fascismo, ela ainda reuniu alguns veículos progressistas. Mas isto durou pouco tempo. Com a onda marcatista nos EUA e a guerra fria, ela foi tomada de assalto pela CIA. Em 1950, na quinta conferência, em Quito, dois agentes da central ianque, Joshua Powers e Jules Dubois, passam a comandar a entidade. Dubois será seu coordenador durante 15 anos e teve seu nome registrado no edifício da entidade em Miami.

Desestabilizar governos progressistas

A SIP se torna um instrumento da CIA para desestabilizar os governos progressistas da América Latina. Para isso, os estatutos foram adulterados, garantindo maioria às publicações empresariais dos EUA; a sede foi deslocada para Miami; e as vozes críticas foram alijadas. “Em resumo, eles destruíram a SIP como entidade independente, transformado-a num aparato político a serviço dos objetivos internacionais dos EUA”, afirma Yaifred. Na década de 50, ela fez raivosa oposição ao governo nacionalista de Juan Perón e elegeu o ditador nicaragüense Anastácio Somoza como “o anjo tutelar da liberdade de pensamento”. Nos anos 60, seu alvo foi a revolução cubana; nos anos 70, ela bombardeou o governo de Salvador Allende, preparando o clima para o golpe no Chile.

“A ligação dos donos da grande imprensa com os regimes ditatoriais latino-americanos tem sido suficientemente documentada e citada em várias ocasiões para demonstrar que as preocupações da SIP não se dirigem a defesa da liberdade, mas sim à preservação dos interesses empresariais e oligárquicos”. Na fase mais recente, a SIP foi cúmplice do golpe midiático na Venezuela, em abril de 2002, difundido todas as mentiras contra o governo de Hugo Chávez. Ela também tem feito ataques sistemáticos aos governos de Evo Morales, Rafael Correa e Cristina Kirchner.

Atualmente, o maior temor da SIP decorre das mudanças legislativas que objetivam democratizar os meios de comunicação na América Latina. Qualquer iniciativa que vise regulamentar o setor e diminuir o poder dos monopólios é taxada de “atentado à liberdade de imprensa”. Como informa Yaifred, “para frear qualquer ação governamental que favoreça a democratização da mídia, a SIP se uniu a outra entidade patronal regional, a Associação Interamericana de Radiodifusão (AIR)”. Ambas declararam guerra as mudanças legislativas em curso na Venezuela, Equador, Bolívia e Argentina. O “fórum de emergência” faz parte desta cruzada antidemocrática e desesperada da máfia da mídia.