quarta-feira, 24 de junho de 2009

O padrão-dólar agoniza no mundo?

Segundo recente reportagem do jornal Valor, “o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já marcou data para anunciar seus planos ambiciosos para o uso do real nas transações da América do Sul... Na próxima reunião da Unasul, que agrega os países da região, ainda neste semestre, Lula quer apresentar aos parceiros proposta que pode ampliar o uso do real nas relações entre os vizinhos”. Caso a notícia se confirme, será um fato inédito na história desta sofrida região, sempre tratada como “quintal dos EUA”, e poderá representar o fim do “império do dólar” no continente.

Ainda conforme a reportagem, o mecanismo de substituição do dólar não está pronto e passa por discussões na equipe econômica, “onde, jura-se no Palácio do Planalto, já existe concordância do reticente Banco Central”. Henrique Meirelles, ex-dirigente do Bank of Boston, é um estorvo até neste tema. Segundo estudos prévios, os países sul-americanos seriam autorizados a sacar, junto ao BC, uma quantia de reais que seria usada no comércio com o Brasil ou mesmo para repassar a outros países da região. “Falta ainda, segundo graduado assessor de Lula, definir o total que será posto à disposição dos vizinhos. Lula quer que seja uma quantia significativa”, afirma o jornal.

O debate sobre o fim do padrão-dólar na região não parte apenas do governo brasileiro e nem é simples retórica. Hugo Chávez foi o primeiro a defender esta medida de defesa da soberania e de integração latino-americana, quando propôs a criação do “sucre” como moeda única regional. Na seqüência, em abril passado, Brasil e Argentina firmaram um acordo de substituição do dólar nas transações comerciais entre os dois países. A nova proposta do presidente Lula já tem o apoio de Cristina Kirchner e Hugo Chávez. Os demais países da região, inclusive os alinhados aos EUA, também deverão aderir à iniciativa, como forma, até pragmática, de superar sua vulnerabilidade.

“Um tabu mental desmorona”

Esta notícia bombástica, inimaginável há algum tempo atrás, parece confirmar uma tendência em curso em vários continentes e não só na nossa região. A mídia européia tratou a recente visita de Lula à China como mais um petardo no fim agonizante do padrão-dólar, com o início das trocas comerciais em iuan e real. “É como se um tabu mental desmoronasse, como se o inconcebível se tornasse, de repente, possível”, alertou o jornal francês Le Monde. “A idéia de um mundo liberto do domínio do bilhete verde avança. Moscou e Nova Déli poderão se juntar ao movimento e permitir às divisas do Bric formarem um bloco dos ‘4 R’ (real, rublo, rupia, renminbi). O fim do reinado do dólar será, talvez, lento. Mas não menos inevitável”, concluiu o renomado periódico.

No mesmo rumo, o presidente do Banco do Povo da China, Zhou Xiaochuan, defende substituir o dólar pelos Direitos Especiais de Saque (DES) do Fundo Monetário Internacional (FMI), uma vez que a moeda de reserva dominante traria maior estabilidade à economia global. Sua idéia de reformar o sistema através de uma moeda de reserva supranacional já teria o apoio da Rússia e de outros países. A mesma tese também é defendida por Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de economia, que propõe uma nova moeda de reserva, possivelmente baseada no DES, criado há 40 anos para suplementar o que na época foi considerado um nível inadequado de reservas globais.

“Quais as probabilidades de se adotar um plano deste tipo hoje? Os EUA estariam preparados para aderir a uma reforma do sistema monetário internacional que reduzisse o papel do dólar? Até recentemente, eu teria considerado isto improvável. A mudança da situação internacional e a possibilidade de um surto de grave fragilidade do dólar, porém, poderiam convencer os EUA a aderir a um plano de conversão que aliviasse a pressão excessiva exercida sobre o dólar. Além disso, excetuando-se possíveis considerações políticas, detentores de dólares de grande porte considerariam uma conta substituta atraente, como forma de proteção contra intensas oscilações no valor do dólar”, argumenta Onno Wijnholds, ex-diretor executivo do FMI.

O declínio relativo do império

A possibilidade real, mas não irreversível, do fim do padrão-dólar tem forte motivação política e econômica. Ela reflete o declínio relativo da hegemonia mundial dos EUA, que se acelerou com a desastrosa administração do presidente-terrorista George W. Bush. No caso da América Latina, ela expressa profundas mudanças políticas na correlação de forças, com as vitorias eleitorais de forças progressistas não alinhadas automaticamente com o império. O fim do padrão-dólar seria impensável há alguns atrás, quando os EUA exerciam poder unipolar sobre o planeta. Como fera acuada, o “império do mal” pode até realizar novas provocações para manter sua hegemonia. Irã e Coréia do Norte podem ser os seus novos álibis, rasgando a “face humana” de Barack Obama.

Além do fator político, o derretimento do padrão-dólar coincide com o agravamento da recessão nos EUA, que detonou uma das mais graves crises da história do capitalismo mundial. A recente falência da GM, que a mídia brasileira insiste em abrandar com o uso do termo concordata, pode indicar o fim de um ciclo. Não foi apenas um símbolo do império ianque que sucumbiu; todo um edifício que está rachado. Como afirma o jornalista Bernardo Joffily, editor do Portal Vermelho, “quando os grandes quebram, é sinal de que a crise é grave, já que em crise ‘normais’ eles até se fortalecem, engolindo os concorrentes mais fracos. Isto significa também que um número muito maior de falências está ocorrendo na base da pirâmide empresarial, fora dos holofotes da mídia”.

"Um sistema que faz água"

No mês de maio, o total de falências nos EUA foi de 7.514, uma média de 242 por dia. O número foi 40% maior que o de maio de 2008. A falência da GM, maior produtora de veículos do planeta entre 1927 e 2007 e responsável por metade da frota de carros dos EUA, foi somente o caso mais emblemático. Antes da sua estatização – outro termo que a mídia procura omitir –, oito grandes bancos e várias indústrias já tinham quebrado. Além do baque empresarial, o governo dos EUA patina nos “déficits gêmeos” (importam mais do que exportam e gastam mais do que arrecadam) e as famílias estão endividadas. No ano passado, 1,1 milhão de famílias pediram “falência” – um recurso legal existente no país. Neste ano, calcula-se que serão 1,6 milhão de famílias.

“É todo um sistema que faz água, e as aflições dos oligopólios bilionários dão apenas uma pálida idéia do que acontece embaixo deles”, arremata Bernardo Joffily. Num cenário em que ninguém tem certeza sobre a dimensão e a duração da crise econômica e no qual a hegemonia política dos EUA atravessa um visível declínio, o padrão-dólar sofre questionamentos no mundo inteiro. A manutenção desta moeda como referência nas transações comerciais e financeiras é hoje mais motivo de instabilidade do que de segurança. Por estas e outras razões, o império do dólar corre sério risco, o que é motivo de expectativa para as nações “rivais” e de esperança para os povos.

Neste quadro de incertezas, a recente proposta do presidente Lula seduz até o jornal de negócios Valor, porta-voz do capital: “Se quiser reduzir as fontes de pressão sobre as políticas comerciais dos parceiros sul-americanos e minimizar seus efeitos sobre as vendas de produtos brasileiros na região, o governo tem de buscar mecanismos criativos e menos dependentes do fluxo de dólares para esses países. Lula mandou seus técnicos encontrarem esses mecanismos e conta tê-los em mãos até junho”. Se a medida realmente vingar, derrotando as “reticências” do BC e de outros neoliberais de plantão, a história das “veias abertas” da América Latina poderá ser reescrita no futuro. A soberania das nações e a integração latino-americana sairão fortalecidas.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Seminário debate democratização da mídia

O portal Vermelho, com apoio do Sindicato dos Engenheiros de São Paulo e da Fundação Maurício Grabois, realizará nos dias 27 e 28 de junho o seminário "Propostas concretas para a democratização dos meios de comunicação". A iniciativa visa contribuir na preparação da Conferência Nacional de Comunicação, marcada para dezembro, e que será precedida das etapas municipais e estaduais entre os meses de julho-outubro. O objetivo é envolver mais pessoas neste processo de mobilização e contribuir na elaboração das propostas dos movimentos sociais. O Jornal dos Engenheiros publicou a seguinte matéria sobre o seminário:

O desafio da conferência nacional de comunicação

Após intensa pressão dos movimentos sociais, o presidente Lula finalmente convocou a primeira Conferência Nacional de Comunicação. Foi preciso dobrar a resistência dos barões da mídia, que manipulam corações e mentes de milhões de brasileiros, possuem expressiva e ativa bancada de senadores e deputados e estão infiltrados no próprio Palácio do Planalto, através do ministro das Comunicações – ou melhor, ministro da TV Globo –, Hélio Costa. A conferência está marcada para os dias 1, 2 e 3 de dezembro e será precedida pelas etapas municipais e estaduais, a partir de julho. Será a primeira oportunidade na história do país para a sociedade debater o papel da mídia.

Do ponto de vista do sindicalismo, não há dúvidas de que a mídia existente no país não serve à democracia e nem à luta dos trabalhadores. Ele vive desinformando a população, criminalizando os movimentos sociais e atacando os direitos trabalhistas. Qualquer ação sindical é tratada como “bagunça”, como fator de “caos no trânsito”. As leis trabalhistas são encaradas como privilégios; a previdência social é apontada como “gastança”; os sindicatos são rotulados de “corporativos e atrasados”. A mídia hegemônica serve aos interesses do grande capital. Atualmente, ela ocupa o papel do “partido da direita”, atacando as lutas sociais e os governos minimamente progressistas.

Diante deste quadro, a Conferência Nacional de Comunicação ganha enorme importância. Além de diagnosticar seu papel nefasto à sociedade, esta será a oportunidade para apresentar propostas concretas para a democratização da mídia. Medidas como a do fortalecimento da rede pública, a da revisão dos critérios de concessão às empresas privadas, a do incentivo às rádios comunitários e aos veículos alternativos ou a do estímulo à inclusão digital estarão na pauta desta conferência. A ditadura midiática, que fez de tudo para evitar a conferência, agora tentará evitar as mudanças mais profundas neste setor. Não dá para vacilar nesta batalha de caráter estratégico.

Com este visão, o Portal Vermelho, com o apoio do Sindicato dos Engenheiros e da Fundação Maurício Grabois, realizará nos dias 27 e 28 de junho o seminário “Propostas concretas para a democratização da comunicação”. O evento terá a presença dos mais renomados especialistas no tema. Além de discutir as medidas para o enfrentamento da ditadura midiática, ele abordará as experiências recentes em outros países do continente, que também padecem do mesmo mal. O objetivo do seminário é ajudar na construção de uma plataforma de propostas que sirvam para municiar os ativistas dos movimentos sociais nas conferências municipais, estadual e nacional.


A programação do evento é a seguinte:

Seminário: “Propostas concretas para a democratização da comunicação”

Dias 27 e 28 de junho.
Local: Auditório do Sindicato dos Engenheiros de São Paulo.
(Rua Genebra, centro, ao lado da Câmara Municipal da capital paulista)

Dia 27 de junho (sábado), às 9 horas.

“O papel da mídia na atualidade”

- Venício de Lima – professor da UNB e autor do livro “Mídia: crise política e poder no Brasil”;
- Marcos Dantas – professor da PUC/RJ e autor do livro “Agenda democrática para as comunicações”;
- Altamiro Borges – diretor do Portal Vermelho e autor do livro “A ditadura da mídia”;

Dia 27 de junho (sábado), às 14 horas.

“As mudanças legais na América Latina”

- Beto Almeida – integrante do comitê diretivo da Telesur;
- João Brant – integrante da comissão de auditória da radiodifusão do Equador e do Intervozes;
- Celso Augusto Schröder – presidente da Federação dos Jornalistas da América Latina e da FNDC;

Dia 28 de junho (domingo), às 9 horas.

“As propostas dos poderes Executivo e Legislativo”

- Tereza Cruvinel – presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC); (*)
- Luiza Erundina – deputada federal do PSB/SP;
- Cida Diogo – deputada federal do PT/RJ; (*)
- Manoela D’Ávila – deputada federal do PCdoB;

Dia 28 de junho (domingo), às 14 horas.

“As propostas dos movimentos sociais brasileiros”

- Lucia Stumpf – presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE);
- Rachel Moreno – pesquisadora do Observatório da Mulher;
- Bia Barbosa – Coletivo Intervozes;
- Sérgio Murilo – presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj);

(*) Nomes ainda não confirmados;

- Vagas limitadas;
- Prazo para inscrições: 22 de junho;
- Taxa de inscrição: R$ 50,00

- Promoção: Portal Vermelho;

- Apoio:

- Sindicato dos Engenheiros de São Paulo;
- Fundação Maurício Grabois;

As inscrições devem ser feitas diretamente no baner do sítio do Vermelho - www.vermelho.org.br